segunda-feira, 29 de junho de 2009


Sabes quando te apetece voar e partir para longe? Quando uma sensação de prisão te invade e não deixa que nada nem ninguém se oponha, como se só ela se pudesse alimentar de ti e não permitir que o teu coração se espalhe e de tudo de si.
A música ensurdece-te e apenas a ela a podes ouvir, mas existem vozes que te chamam, e todas te querem, mas sem nenhum fim. Agora não podes falar porque elas não querem, e também não sabes se tens fome ou não porque elas fazem as tuas opções e não te deixam viver, trabalhas num tal piloto automático e não consegues tomar o seu controlo pois a vida já não te pertence, ela já faz parte das memórias que deixaste, e agora, já ninguém te conhece sequer, já os sorrisos que voam à tua volta são falsos e pesados, já as palavras que ouves são míseros vocábulos ditos apenas por irritantes piedosas almas que querem mostrar aquilo que não são.
Mas eu invejo essas almas, apenas desejava ser como elas, não ouvir estas malditas perseguidoras canções que me tiram o fulgor da vida e me querem deitar num precipício que me arrepia apenas de pensar que nunca mais voltarei a ver nada relativamente ao pouco que já vejo. Contudo já estou dependente dessas malditas vozes que tanto odeio, são como uma droga que se infiltra no nosso corpo, mais profundo que os teus ossos e te deixa andar à deriva, a voltejar ao vento tal como os flocos de neve que caem do belo céu num dia gélido. E já não consigo saber o que sinto, apenas o que as vozes me mandam sentir .
Já não vinha aqui ha imenso tempo, mas agora voltei, ou aplicar-me nisto. Até porque nada mais há que possa fazer, e sempre gostei de escrever, é a saída que sempre procurei.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

As Palavras Que Nunca Escrevi Para Mim

Já não sinto a vontade que antes sentia ao escrever.
O tempo parece retornar à demência de quem conta cada segundo no qual agoniza, parece um pesadelo que antecede o amanhecer e ultrapassa o acordar.
É como se o tempo me castiga-se por nunca ter sentido...
Hoje revejo-me num papel isenta de palavras, é só tão só que me encontro.
As palavras dão lugar lugar a memórias cuja sombra já as devorou.
O olhar torna-se melancólico face à solidão de quatro paredes, a decoração empoeirada ainda recorda o passado de forma cruel.
Cada reconto parece conter as palavras de uma história que todos parecem esquecer ao primeiro olhar com que se cruzam.
Não consigo olhar para trás pois a saudade ia matar-me de uma forma incrivelmente cobarde.
A tinta negra, de um negro tão belo, escreve agora as notas de uma partitura onde o piano acompanha tristemente esta história cujo fim se aproxima.
O piano toca tão apaixonado que quase me comove,
Cada nota parece tocar o meu coração,
A cada nota eu recordo rostos,
Rostos tão belos que já não sorriem para mim...
As lágrimas aqui caídas são as últimas recordações que tenho.
O velho relógio parece parar,
Os objectos parecem cobertos das mais belas teias,
A mobília desgastada por tantas gerações decora esta velha casa.
Deambulo entre tons de sépia enquanto o piano me acompanha com uma melodia tão familiar, esta perece vir de um tempo tão antigo quanto eu...
As cortinas rasgadas esvoaçam e das janelas eu vejo um mundo que não o de antigamente.
Vagueio pela casa e, com
saudade, escrevo nas paredes as palavras que nunca escrevi para mim enquanto ainda era viva.